terça-feira, 10 de agosto de 2010

utopia radiofônica

Ideologia sempre foi algo que me moveu. Por motivos de força maior e de história que não se aplica nesse texto, percebi que o que se deixa na vida é o que se viveu, são os ideais que defendeu e a história que escreveu. São rimas bobas que grudam como o som da guitarra alta.

Trabalhar em uma rádio moveu muito dos meus preconceitos, esclareceu dúvidas e desenhou outras. Sei que estou em um veículo com um alcance incrível, desde o cara que ouve na internet até o radinho de pilha do interior desse país imenso.

Graças a Pitty e a sua inquietude suprema, me peguei discutindo mais uma vez algo que discuti quando desembarquei na sala de programação da rádio. Queria poder tocar Nirvana, queria pedir Smiths, queria o mundo inteiro e não podia, talvez em pequenas brechas conseguia uma vez por semana emplacar algo diferente no Naftalina, programa que ninguém ouve às 5h30 da manhã.

Infelizmente, ou felizmente se a mistura fosse bem apurada, o rádio é como o shuffe do iPod. Mas, diferente dele, nada pode destoar muito. Não pode por quê? Porquê alguém algum dia achou que era melhor fazer sentido e manter uma certa ordem. Mesmo que a ordem não condiza com a realidade ou diga respeito apenas a realidade dos "ecléticos" ou do "pop".

O caminho para mudança? Talvez jogar a responsabilidade no público não seja de fato uma saída. Eles, apesar de muitos, são barulho pequeno. Eu acho que é preciso um pouco mais. Pegue a música como uma pessoa, alguém que quer ser levado a sério e nem de fato se conhece, alguém que se comporta como Zelig (aquele do Woody Allen mesmo), esse ser humano mediano que se encontra por aí, mudando para se encaixar. Você levaria alguém assim a sério? É preciso se conhecer, assumir uma postura, bater o pé, firmar que aquilo é a sua arte e faz parte de você. Faço pequenas concessões, escrevo releases para poder ser plena as segundas-feiras quando consigo abrir o estúdio para três pessoas falarem sobre o que me interessa com a liberdade que dou aos meus amigos: "seja o que for. mas, seja".