quinta-feira, 14 de outubro de 2010

QotSA

A segunda-feira começou com a ansiedade de um casamento. Talvez seja o mais próximo que eu vá chegar de sentir algo perto desse tipo de união, que quase nada me interessa. O noivo era uma banda inteira liderada por um cara que transmite algo sexy no ar, uma coisa que não se coloca em palavras, o Queens of The Stone Age. O dia inteiro iria passar por obrigação. Ainda tinha algumas bandas para cobrir e trabalho a fazer até dizer "agora é a minha hora". No fim do Incubus fui comprar uma cerveja e encontrei um amigo que estava em um universo paralelo onde também adoraria estar. Fomos para o meio do povo esperar a missa começar. Encontramos outras pessoas que fizeram uma hora de atraso passar com bom humor. Alguns gritos tentaram ser puxados, O show do Incubus parecia não ter mais fim. Foi com Bob Marley que finalmente algo foi até o fim e o coro cantou "josh hommê about the things/ 'cause queens of stone age/ is gonna be all right".

Tudo desligado no palco, amplificadores com luzes apagadas, nenhum roadie trabalhando. Nada acontecendo até que uma luz vermelha se acendeu e Josh Homme falou algo como "muito tempo depois" e a partir daí os primeiros acordes de "Fell Good Hit of The Summer" me hipnotizaram. Muito pouco importava. Foi cantar, gritar, pular e sentir esse que deve ter sido um dos maiores shows de rock que o país já recebeu.

A banda bem ensaiada faz um show que vai demorar alguns dias, talvez meses, tomara que anos, para se apagar da memória. A segunda música foi logo "The Lost Art Of Keeping a Secret", de longe, uma das minhas preferidas do QotSA. Levo para vida duas frases do refrão "whatever you do, don't tell anyone". Faz parte da minha discrição e de manter para mim o que apenas precisa ser meu. Tudo continuou em um ritmo intenso, Josh Homme desenrolava as músicas, falava pouco e agora, depois de tudo, me faz achar que muita banda de rock parece estar sempre tocando no bailinho do colégio. É rock demais, atitude demais, letra demais, música demais. Foi tudo demais. E o terceiro dia do SWU foi indo. Uma hora depois, pouco mais de uma hora talvez, perdi a noção de tempo. Perdi a noção de vida. Saí meio sem saber para onde ir. Fiquei com alguns conhecidos, levei eles para uma outra entrada que dava acesso aos palcos, fui beber outra cerveja e recuperar as forças para encerrar a cobertura da rádio. Ainda estava meio longe, demorou duas horas até tudo assentar e eu deixar tudo sair. Muita informação em três dias que acabou da melhor maneira possível, bendito seja Josh Homme.

God save the Queens Of The Stone Age.


Set List:


Feel Good Hit Of The Summer
The Lost Art of Keeping a Secret
3's & 7's
Sick, sick, sick
Monsters in the Parasol
Burn the Witch
Long Slow Goodbye
In My Head
Little Sister
Do It Again
I Think I Lost My Headache
Go With The Flow
No One Knows
A Song for the Dead

e aqui tem um link com todas as mp3 do show. (para quem perdeu e para quem foi poder apertar o repeat nas sensações)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

utopia radiofônica

Ideologia sempre foi algo que me moveu. Por motivos de força maior e de história que não se aplica nesse texto, percebi que o que se deixa na vida é o que se viveu, são os ideais que defendeu e a história que escreveu. São rimas bobas que grudam como o som da guitarra alta.

Trabalhar em uma rádio moveu muito dos meus preconceitos, esclareceu dúvidas e desenhou outras. Sei que estou em um veículo com um alcance incrível, desde o cara que ouve na internet até o radinho de pilha do interior desse país imenso.

Graças a Pitty e a sua inquietude suprema, me peguei discutindo mais uma vez algo que discuti quando desembarquei na sala de programação da rádio. Queria poder tocar Nirvana, queria pedir Smiths, queria o mundo inteiro e não podia, talvez em pequenas brechas conseguia uma vez por semana emplacar algo diferente no Naftalina, programa que ninguém ouve às 5h30 da manhã.

Infelizmente, ou felizmente se a mistura fosse bem apurada, o rádio é como o shuffe do iPod. Mas, diferente dele, nada pode destoar muito. Não pode por quê? Porquê alguém algum dia achou que era melhor fazer sentido e manter uma certa ordem. Mesmo que a ordem não condiza com a realidade ou diga respeito apenas a realidade dos "ecléticos" ou do "pop".

O caminho para mudança? Talvez jogar a responsabilidade no público não seja de fato uma saída. Eles, apesar de muitos, são barulho pequeno. Eu acho que é preciso um pouco mais. Pegue a música como uma pessoa, alguém que quer ser levado a sério e nem de fato se conhece, alguém que se comporta como Zelig (aquele do Woody Allen mesmo), esse ser humano mediano que se encontra por aí, mudando para se encaixar. Você levaria alguém assim a sério? É preciso se conhecer, assumir uma postura, bater o pé, firmar que aquilo é a sua arte e faz parte de você. Faço pequenas concessões, escrevo releases para poder ser plena as segundas-feiras quando consigo abrir o estúdio para três pessoas falarem sobre o que me interessa com a liberdade que dou aos meus amigos: "seja o que for. mas, seja".