quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Prazeres de uma juventude estranha


O primeiro disco solo do vocalista do Strokes, Julian Casablancas, provou uma coisa: ele não é o cérebro da banda. As oito músicas do "Phrazes For The Young" parecem ter saído de um daqueles programas do Mac que te permitem montar uma música. Nada orgânico, nada visceral. Música para abraçar o hype e poucos ouvirem.

Falta tudo e sobra a boa voz do Julian, isso é inegável. Em "Left & Right In The Dark" a introdução parece um daqueles pré-programados do teclado. Já "11th Dimension" pode ser a melhor faixa do disco mas ainda está longe de ser boa.

Talvez o melhor do seja a capa. A primeira vez que vi lembrei dos Mutantes. A associação não tem uma razão evidente, talvez porque se eu pensasse nos três Mutantes originais fazendo algo hoje, teria aquela cara. Um certo ar de brincadeira com a tecnologia.

Já o Julian Casablancas perdeu a oportunidade de ser genial para fazer um disco mediano.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pode parecer estranho


Dois discos lançados no mesmo ano, embora completamente diferentes são ligados por uma música e pela mesma concepção de mudança. O “The Eternal” do Sonic Youth parece marcar um compromisso menor da banda com o experimentalismo, as músicas usam a potência da voz da pequena Kim Gordon e mantém os poderosos riffs de guitarra que sempre foram a marca registrada da banda. Já o Chiaroscuro da Pitty inovou na busca por novos sons e explorou mais a voz dela que pode ser doce e alta em uma mesma faixa. São diferentes e parecidos, principalmente nos primeiros acordes de "8 ou 80" e a introdução de "What We Know".

Outra coisa presente nos discos são as referências literárias, enquanto a Pitty abusa nas letras de várias músicas citando todos os livros que deveriam ser obrigatórios para os adolescentes do mundo, o Sonic Youth usa a idade de todos eles para se revelarem em outros escritos.

O disco do Sonic Youth funciona tão bem que faz a banda parecer outra ao vivo, as canções tem uma sonoridade mais simples que chega sem grandes problemas aos ouvidos desacostumados, parecem contemporâneos do que faziam em 2004 no Sonic Nurse. Os anos fizeram bem ao Sonic Youth. Será esse o anúncio de uma nova busca? O momento é acertar pelo simples sem abandonar a essência? O vocal rasgado da Kim no começo da "Sacred Trickster" me lembra a Allison nas suas melhores interpretações com o The Kills.

O Sonic Youth parece deixar a obrigação revolucionária que carregamos na juventude para chegar a uma maturidade tranquila. Sem necessidade de se firmar depois de tantos anos de compromisso com a música, com o experimental, com o novo, o “The Eternal” chega anunciando que o fim é um novo começo. Sonic Youth pode deixar de ser aquela banda complexa de muito tempo para se tornar um rock simples. O bom é sentir que eles ainda são fieis aos instrumentos e não se renderam aos computadores nesse novo jeito de "fazer música". Tocam e cantam, o Sonic Youth que traduziu gerações na busca por autoconhecimento parecem ter encontrado um pedaço de paz.

O Chiaroscuro da Pitty é mais complexo do que os trabalhos anteriores, quase todas as músicas ficam melhores se ouvidas com o fone, o hit "Me adora" destoa do resto e dá lugar a "Água Contida" com o preciso violino de Hique Gomez (Tangos & Tragédias). Esse álbum merece ser ouvido com todos os preconceitos desligados. A coragem da Pitty é contrária a do Sonic Youth, que facilitou a música, ela parece ter desdenhado o mercado em busca do som. Embora os fãs ainda continuem os mesmos, a problemática se encaixa melhor na vida dos mais crescidos: das mulheres que se dividem entre trabalhar, cuidar dos filhos e ainda procurar tempo para se divertir em Desconstruindo Amélia. Pitty retratou essa multifacetada juventude crescida do século 21. Acabaram os hinos adolescentes, aquela necessidade de ouvir música alto até os pensamentos se calarem para dar lugar a calma. Ouvir os discos antigos e parar em “Água Contida” faz sentir como se tivesse trocado uma balada alucinante por uma noite com vinho e bons amigos. Saiu o caos absoluto e entrou um vocal leve em “Só Agora”, ainda que “Equalize” e “Na sua estante” já tivessem mostrado esse lado romântico da cantora, é a evolução dos arranjos que chamam a atenção no Chiaroscuro.

A minha leve esperança é que todos os muitos adolescentes que gritam, fazem coro de “eu te amo” e vibram com a presença da Pitty procurem entender as milhares de referências despejadas por ela, desde o trocadilho de "Todos estão Mudos" com "Todos estão Surdos" do Roberto Carlos até os livros que povoam as letras.

Ao que tudo indica o Sonic Youth atingiu a serenidade da velhice enquanto a Pitty chegou ao mundo adulto. Novos tempos, bons tempos.







O “The Eternal” foi direto pro topo dos meus discos desse ano. E que ano de CDs bons: o novo do arctic, o da ScarJo com o Pete Yorn, o The Kills (embora seja do ano passado), o novo do Morrissey, Muse... Só faltou Radiohead, Fiona Apple e Chico (amor) lançarem coisas novas.

domingo, 8 de novembro de 2009

Meio festival (depois de quatro anos) com algumas novidades

foto de divulgação

A pontualidade é uma marca relevante do Planeta Terra, esse ano nenhum show atrasou, visto que os 5 minutos do Ting Tings não podem ser considerados isso. Isso é, se você não estivesse esperando para ver no máximo duas músicas e correr até o palco do Iggy Pop. O festival no playcenter perdeu pela distância dos palcos, atravessar o parque era uma tarefa de coragem e pressa.

Às 17h30, o Móveis Coloniais de Acaju entrou no palco para uma plateia ainda pequena porém fiel. Todos cantavam e dançavam contrariando o sol de mais de 30º que castigou São Paulo na tarde desse sábado (07). Não faltaram os sucessos de "Idem" e as músicas do novo CD c_mpl_te (complete). Quem assistiu a banda pela primeira vez se surpreendeu com a animação e a capacidade que eles tem de se divertirem enquanto tocam. O show do Móveis sempre mais parece uma festa.

Até às 22h, hora que começou Sonic Youth, a única saída eram os brinquedos. O playcenter foi uma boa escolha graças ao line up relativamente fraco recheado de bandas eletrônicas, que eu particulamente detesto. As filas curtas foram outro atrativo. Depois de algumas voltas a sensação de perda tomou conta do grupo e fomos ver Primal Scream, as músicas velhas quando eles ainda achavam interessante tocar até davam o tom do show, mas quando vinham todas aquelas batidas eletrônicas a banda se tornava algo irritante e desesperador.

O show acabou e faltava pouco para o Sonic Youth, entre um show e outro os telões transmitiam entrevistas com as bandas que tinham acabado de tocar e com outras pessoas que estavam no festival. Com a surpresa aparição do Gastão na transmissão, Edgard Piccoli soltou algo que pode interessar a todos os fãs de música: "Gastão está voltando", resta esperar e ver se para MTV ou indo para o Multishow, quem sabe qualquer outro lugar. Esperança para quem cansou de ouvir besteiras sendo ditas por entendores de música que só o são porque viajaram para três ou quatro países para assistir festivais. Depois do Edgard, entre o Primal Scream e o Sonic Youth, alguém teve a infeliz ideia de entrevistar o Lucas e o Tavares (?) do Fresno, a entrevista não durou um minuto, o público que esperava o Sonic Youth vaiou os garotos durante todo o tempo, só não sei se o telão respondeu ao público ou o Terra derrubou a transmissão. Engraçado e previsível, poucas pessoas no festival pareciam ter menos de 20 anos e a média no show do Sonic subiu, ninguém estava interessado em saber o que o Fresno pensa e ninguém tem o menor respeito pelo som das crianças. A explicação: esperavam o Sonic Youth.

O Sonic Youth era a minha esperança da noite e acabou sendo a surpresa também. O show do "The Eternal" funciona muito bem, Kim Gordon mostra sua potente voz que cabe naquele corpo de provavelmente 1 metro e meio e as guitarras distorcidas tem espaço sem cobrir as vozes, tem mais melodia, menos barulho, é pesado e ao mesmo tempo leve, as músicas apesar de novas eram cantadas por parte do público animado. A chuva fez meus amigos sumirem e eu passei parte do show sozinha, experiência válida para quem queria sentir as músicas e só se irrita com duas na vida: gente que fala durante filme ou reclama durante show. A bateria do começo de "What We Know" anunciou o momento mais divertido do meu dia. Quem foi para ver hits, teve que esperar e percebi muita gente saindo decepcionada. O Sonic Youth parece estar em uma nova fase, os fãs envelheceram e eles também já não são tão jovens para continuar só com guitarras distorcidas fazendo o mesmo som de 82. Como diria Nina Simone "it's a new day, it's a new life" e eles realmente parecem se sentir bem.

O The Ting Tings são surpreendentes, duas pessoas que fazem a banda, tocam vários instrumentos e animam o público, apesar da veia eletrônica o som não me incomoda. Assisti aquela animação por duas músicas até o hit "Great DJ" e sai na meia maratona até o outro palco para ver o Iggy.

Cheguei no Iggy quando a volta a 2005 já tinha acabado e as pessoas já haviam descido do palco. É mania convidar o público paulistano para se juntar a ele? Aconteceu no Claro que é Rock, aconteceu no Planeta Terra. Durante o show ele não parou por um minuto, correu, cantou, desceu várias vezes do palco, se juntou as pessoas, as agradeceu e as abençoou. O ponto alto, outra vez foi "I Wanna Be Your Dog", mas nesse show até o clássico "Lust for Life" pareceu ter uma roupagem melhor, ficou mais clara e interessante ao vivo do que em 2005. As músicas novas não animaram o público como os hits fizeram e no todo, apesar das novidades musicais, o show pareceu com o de 2005. Com um Iggy mais gordo, mais fora de forma e no auge dos seus 62 anos. Talvez essa tenha sido de fato a última chance de ter visto essa lenda em terras brasileiras. O mais difícil de explicar é que o fato do Iggy mostrar a bunda e não se importar, não é bonito, mas é interessante porque ele mostra que PODE, que não se importa com a indústria, com o que os outros vão pensar, ele faz e ponto, a discussão no carro foi do choque de uma das meninas que falava "que horror, pra quê?" e a resposta é: justamente porque não tem um pra quê. Iggy Pop é lenda, é história, segundo mito popular pegou ou foi pego pelo David Bowie. Quebrou regras e pouco se importa com certo e errado. Além do que, por ser um mito poderia ter exigências estrondosas, mas a única que ele fez em 2005, quando tocou no Claro Que é Rock, foi uma calça jeans feminina no estilo calça da Gang.

O Planeta Terra poderia ter sido melhor se não tivesse requentado bandas de outros festivais. E, na próxima vez, eles deviam deixar Fresno, Nx Zero, Restart, Gloria, Hevo84, Hóri e essa infinidade de bandas falarem no lugar onde eu trabalho, no festival deles esses garotos não cabem, embora rendam risadas.

atenção: esse não é um texto jornalístico.